quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Perigos da automedicação!

Temos uma profissão  de grande exigência. Começa desde logo pelas dificuldades na interpretação  da caligrafia médica, passando pela complexidade dos nomes dos medicamentos e substâncias activas. Com tanto nome semelhante não basta ler de relance os nomes das substâncias activas.

A prova do mesmo é a situação que aconteceu ontem na farmácia.
No que toca a opióides, apenas um farmacêutico experiente consegue enumerar mais substâncias activas desta categoria, que toxicodependentes. Mas mesmo eles, com vasta experiênciana área, têm que se concentrar quando toca a lidar com nomes de medicamentos. 

Acontece que um dos toxicodependentes que diáriamente toma a sua dose de metadona na farmácia onde trabalho "leu" Dihydrocodeine Hydrochloride numa garrafa de xarope que efectivamente dizia Dicycloverine Hydrochloride. Fazendo uso de alguma experiência na arte do roubo e de bastante ousadia conseguiu roubar essa mesma garrafa de xarope sem que ninguém se tivesse apercebido. Este facto foi-nos reportado no dia seguinte por um conhecido deste mesmo indivíduo, tenho acrescentado que terá bebido a garrafa toda e que não se terá sentido muito bem durante o resto do dia.

Ora uma garrafa de xarope de um antimuscarínico de golada deve, no mínimo, dar um secão do caraças e uma bexiga do tamanho de um garrafão de cinco litros. 

Ainda nos rimos um bom bocado à custa disto. Haveria outras alternativas na prateleira que também lhe teriam dado a lição necessária.


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Sentença GPhC

Há uns tempos atrás escrevi um post sobre a investigação BBC que denunciou farmácias britânicas que vendiam medicamentos sujeitos a receita médica sem a presença da mesma.

Ora aqui estão, quase dois anos depois, algumas convicções:

Second pharmacist struck off after bbc exposé

Portanto carteira profissional retirada. Na minha opinião tem mesmo que ser assim. Mais duas vagas de emprego que sobram para farmacêuticos preparados para dignificar a profissão.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Na emigração há ir e voltar...

 Numa altura em que só se fala em emigrar, fica aqui este texto que uma amiga nossa deixou no seu facebook no dia em que regressou a Portugal após quatro anos de emigração. Ela também uma farmacêutica comunitária.

"Após 4 anos de um "exílio" voluntário e extremamente enriquecedor em termos pessoais e profissionais, eis-me de volta à pátria lusa...
Sentimentos contraditórios no momento da partida, pois se é verdade que nunca planeei ficar por mais de 2 anos, o facto é que se estabeleceram laços com pessoas e lugares e uma parte de mim ficará sempre em Inglaterra...
E, honra lhes seja feita, os ingleses sempre me trataram bem e provavelmente aquilo que melhor recordarei deles será a forma calorosa como quase sempre reagiram cada vez que respondia à inevitável questão "Where do you come from?" Claro que para a maioria deles, somos um país "tropical", mas sabem que somos hospitaleiros, temos bom clima, óptimas praias e uma gastronomia fantástica.
Acredito que não irei ter saudades da porcaria e da falta de higiene (das chávenas sujas com borra de chá ou café, dos pratos postos em cima da mesa sem um simples individual de papel, do açucar servido em cubos numa tigela, de quase ter que mendigar por um guardanapo - desculpem, mas recuso-me a limpar os dedos às calças -, enfim, pormenores que provavelmente fariam a ASAE fechar 99% dos bares, restaurantes e pubs ingleses), da recollha de lixo semanal/quinzenal, da preguiça e falta de ginástica mental, da coscovilhice e da má lingua. Mas sentirei saudades da boa educação, do civismo e da cortesia, da tolerância (por vezes em demasia...), da honestidade, da transparência e da boa fé. Sei que irei lamentar não estar em Inglaterra cada vez que um condutor irresponsável começar a buzinar, fizer ultrapassagens perigosas ou zigue-zague numa fila de trânsito; cada vez que um "chico esperto" tentar passar à frente dos outros numa fila; cada vez que um cliente tentar forçar a entrada na farmácia 10 minutos depois da hora de encerramento e se sentir no direito de ser atendido, sem o mínimo respeito por quem já terminou o dia de trabalho ou exigir que lhe sejam dispensados antibióticos, antidepressivos ou sedativos sem receita médica; e de cada vez que o meu banco me cobrar taxas, sobretaxas e imposto sobre as taxas ou o meu dinheiro ficar retido entre 24 a 72h após uma transferência bancária, mesmo entre contas do mesmo banco (!!!).
A todos os que se cruzaram comigo nesta terra adoptiva, o meu obrigada pelo apoio e carinho com que me brindaram, contribuindo para tornar mais colorida e inesquecível esta experiência emigrante; aos amigos tugas que deixo para trás e que tal como eu querem regressar, o meu voto de que num futuro não muito distante, tenham a mesma sorte que eu tive e lhes surja uma proposta de emprego irrecusável."

Maria Manel.


Porque, pelo menos no dia em que deixamos o nosso país, o plano passa sempre por regressar. Anos mais tarde alguns continuam fieis a esse plano e conseguem fazê-lo, outros nem por isso, nem tão pouco o querem fazer.