quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Farmacêutico no UK - Já foi muito mais fácil...

Ora viva.


O número crescente e constante de emails que continuo a receber sobre o tema da farmácia no Reino Unido "obriga-me" a voltar a este tema. Vou escrever este post num estado de motivação profissional perigosamente baixo.
Trabalho como farmacêutico comunitário no Reino Unido há quase cinco anos, e assisti durante esse tempo a uma transformação absolutamente incrível na realidade do papel do farmacêutico e no dia-a-dia da farmácia.



Em 2008 foi publicado o Pharmacy White Paper, e que revolucionou todo o papel do farmacêutico comunitário e todo o financiamento da farmácia.



Pharmacy White Paper
The Government published its long awaited White Paper on pharmacy - Pharmacy in England - Building on Strengths, Delivering the Future on 3rd April 2008.
It contains a great many proposals to expand the role of community pharmacy. Work to implement proposals begins immediately, with NHS Employers acting on behalf of Primary Care Trusts, and PSNC discussing a number of key issues. The community pharmacy contractual framework will be refreshed over the next two years, as new services are developed.

A mudança do papel do farmacêutico de alguém cujo papel principal era aviar receitas, para um prestador de diversos serviços e cuidados de saúde é algo de louvar e cuja ideia é recebida de braços abertos por qualquer farmacêutico motivado, pois permite uma aplicação mais abrangente dos conhecimentos adquiridos e uma maior afirmação da profissão em si. Até aqui estamos todos de acordo, mas o problema é que, fruto dos tempos de crise e de contenção orçamental, o lucro obtido pelas farmácias pela dispensa de medicamentos foi drasticamente reduzido, sendo que para a farmácia consiga manter os mesmos níveis de lucro (facturação) passou a ter que oferecer um número enorme de serviços extra.


Vejamos o que mudou apenas em meia dúzia de anos:
Há meia dúzia de anos o papel principal do farmacêutico era efectivamente aviar receitas (e todo o muito conhecimento que isso implica) e o aconselhamento farmacêutico à população sempre que solicitado e apropriado. Aconselhamento e tratamento de condições médicas mais simples através de medicamentos não sujeitos a receita médica. Só estes pontos descritos já são suficientes para tornarem a profissão bastante desafiante e exigente. (é uma realidade bastante diferente da Portuguesa, que dificilmente poderia ser bem explicada e que neste post não vale a pena).
A prestação de serviços extra, era praticamente inexistente, e resumia-se apenas à dispensa e supervisão de metadona e buprenorfina usados no tratamento da dependência de opióides.

Desde há meia dúzia de anos para cá verificou-se a tal transformação do papel do farmacêutico comunitário que acima referi.
Antes de mais, menciono o crescimento constante do número de items dispensados a nível nacional ("The number of prescription items dispensed in England rose nearly 70 per cent in the past decade while the cost to the NHS rose by 58 per cent, an NHS report showed.") Aumento de 70% nos últimos dez anos!


O "Pharmacy contract" é composto por três níveis distintos de prestação de serviços:
ESSENTIAL SERVICES - PROVIDED BY ALL CONTRACTORS;
ADVANCED SERVICES - CAN BE PROVIDED BY ALL CONTRACTORS ONCE ACCREDITATION REQUIREMENTS HAVE BEEN MET; AND
ENHANCED SERVICES - COMMISSIONED LOCALLY BY PRIMARY CARE TRUSTS (PCTS) IN RESPONSE TO THE NEEDS OF THE LOCAL POPULATION.


Dissecando um pouco diria que os Essential Services consistem no papel clássico do farmacêutico comunitário, que já descrevi acima. (aconselhamento e dispensa de medicação à população).

Os Advanced Services são protocolos a nível nacional que incluem serviços como os MUR – Medicines Use Review (The service consists of accredited pharmacists undertaking structured adherence-centred reviews with patients on multiple medicines, particularly those receiving medicines for long term conditions).
Neste serviço, para o qual o farmacêutico tem de adquirir qualificações e um diploma, o farmacêutico faz uma revisão da medicação com o utente, focando os mais diversos aspectos, como a adesão à terapêutica, adequação da forma farmacêutica, da posologia, da presença de efeitos secundários, verificação da eficácia sempre que possível, sugestão de medidas não farmacológicas para as condições apresentadas, a explicação sobre o funcionamento dos vários fármacos e sobre a importância dos mesmos. Por cada consulta destas, que poderá demorar entre 15 e 45 minutos, a farmácia recebe um pagamento de £28. O serviço é gratuito para o utente e pode ser feito a cada doze meses com um utente que tenha, no mínimo, recebido os três últimos meses de medicação da farmácia em questão.
-- > Tudo isto é muito interessante, verdade, mas durante esses 30 minutos em que o farmacêutico esteve na sua sala de consultas com o utente a fazer o tal MUR, nenhum medicamento saiu da farmácia, pois todas as caixas têm de ser verificadas e assinadas pelo farmacêutico e todas as receitas clinicamente validadas pelo mesmo. Durante esses mesmos 30 minutos, qualquer toxicodependente tem que aguardar pelo farmacêutico para que este supervisione e documente a toma da medicação.

Outro serviço bastante recente é o NMS – New Medicine Service (The new medicine service (NMS) was the fourth advanced service to be added to the NHS community pharmacy contract; It commenced on the 1st October 2011. The service provides support for people with long-term conditions newly prescribed a medicine to help improve medicines adherence; It is initially focused on particular patient groups and conditions)
Este serviço é oferecido a qualquer paciente que inicie terapêutica farmacológica em determinadas áreas (Asma, hipertensão, anticoagulantes e outras). Este serviço envolve três etapas e desenrola-se durante o primeiro mês de terapêutica. Obviamente que este processo envolve consultas entre o farmacêutico e o paciente (consultas presenciais ou pelo telefone) É uma iniciativa gratuita para o utente. O pagamento à farmácia pelo NMS é algo de bastante complexo, mas dará umas £20 por NMS completo.
-- > Tudo isto é muito interessante, verdade. Mas durante todos esses 15 a 30 minutos em que o farmacêutico esteve na sala de consultas com o utente a fazer o tal NMS ou numa consulta telefónica, nenhum medicamento saiu da farmácia, pois todas as caixas têm que ser assinadas pelo farmacêutico e todas as receitas clinicamente validadas pelo mesmo. Durante esses mesmos 30 minutos, qualquer toxicodependente tem que aguardar pelo farmacêutico para que este supervisione a toma da medicação.

Depois existem os Enhanced Services que são os mais variados serviços cujo financiamento e detalhes são acordados com os PCT's que constituem as autoridades de saúde regionais (equivalente às ARS - Administração Regional de Saúde)
Uma lista de possíveis Enhanced Services:

A minha farmácia por exemplo presta a maior parte destes serviços. Para todos é necessária formação e aquisição de qualificações específicas (por outras palavras, adquirir mais um diploma).
Por exemplo, a prestação da Pílula do dia seguinte (contracepção de emergência), envolve uma consulta entre o farmacêutico e a utente, que nunca demora menos de 15 minutos. Durante esses 15 minutos já sabem que a farmácia "pára". Numa farmácia como a minha em que todos os dias se faz a supervisão do consumo de metadona a mais de 50 toxicodependentes, fica um pouco "apertado".


Enfim, vim para aqui desabafar, mas a verdade é que o volume de trabalho está a adquirir proporções física e humanamente incomportáveis.

Durante os últimos 10 anos os salários dos farmacêuticos praticamente não variaram (o que tendo em conta a inflação, constitui uma redução significativa do salário) e a remuneração por hora dos farmacêuticos por conta própria (self-employed) teve uma redução real (isto nem considerando a inflação). Há 10 anos atrás, a vida de um farmacêutico no UK era realmente relaxada, e o financiamento da farmácia permitia o exercer de funções sem grandes pressões. Hoje tudo mudou, os farmacêuticos estão constantemente debaixo de pressões para prestação de serviços e passam o dia a "correr" de tarefa em tarefa. Quando o farmacêutico termina uma consulta de MUR com um utente e volta à "dispensary" é capaz de ter uns 10 utentes à espera da sua medicação mensal. Terá que verificar e ensacar tudo, por vezes contactar o prescritor, e responder a pedidos de aconselhamento por parte dos utentes. O entendimento da dimensão disto pode ser difícil para quem não conheça a realidade, mas a verdade é que apesar do congelamento dos salários dos farmacêuticos na última década, do aumento em 70% do número de items dispensados e da importantíssima implementação de todos os novos serviços, mais de 90% da farmácias britânicas continuam a ter apenas UM farmacêutico!! Isto num cenário de regulamentações apertadas sem espaço para erro humano e numa cada vez maior cultura estilo americano do processo em tribunal por qualquer erro ou aconselhamento errado.

Estou, efectivamente, a ficar fartinho. Outros farmacêuticos portugueses por cá que deixem a sua opinião sobre este tema (a corroborar ou a contradizer o que escrevi).
Como disse inicialmente, sou frequentemente contactado por farmacêuticos portugueses. Em alguns casos acabo por acompanhar o todo o processo inicial adaptação, e quase sempre acabo por receber emails ou conversas no chat a dizer qualquer coisa do género "tu dizias que aqui se trabalhava muito, mas isto é de loucos"...

Como estamos a chegar ao fim do ano vou fazer previsões para o futuro da profissão:
- Os mais velhos vão cada reformar-se ou mudar de profissão mais jovens. Vejo uma dificuldade enorme de farmacêuticos mais velhos, que estavam habituados ao bem bom, em acompanhar o ritmo actual.
- Saturação do mercado de trabalho e consequente descida de salários. As maiores cadeias de farmácias (mais de 55% do total das farmácias pertencem as estas companhias) já não recrutam activamente farmacêuticos europeus e na maior parte dos casos em que são contactadas directamente recusam candidaturas.
- PCT's - Primary Care Trusts (equivalente às ARS - Administração regional de saúde) vão ser extintos sendo que toda a gestão dos serviços de saúde vai passar a ser feita pelos centros de saúde (Portanto médicos de família). Na minha opinião, nada de bom para as farmácias virá daqui.
- Diversificação dos papeis dos farmacêuticos. Acredito que muitos farmacêuticos irão deixar a farmácia comunitária para trabalhar em Hospital e em Centros de Saúde ao lado dos médicos (muito concretamente na gestão e racionalização do orçamento anteriormente na mãos dos PCT's)

Se não estivesse verdadeiramente estável e feliz com a minha situação específica (e a Ana também razoavelmente feliz) já estaria a considerar mais seriamente outras possibilidades. Assim, e por enquanto, vou ali tomar um cocktail de sertralina com fluoxetina e citalopram.

PS: Peço desculpa aos que me contactaram via email e que ainda não receberam resposta. Fá-lo-ei.


PS2: Continua a haver farmácias pouquíssimo movimentadas onde o farmacêutico continua a poder "respirar" minimamente.


PS3: Na área hospitalar continua a haver falta de farmacêuticos, mas não conheço a realidade.


PS4: Continuo a ver com enorme frequência propostas de emprego para as ilhas da coroa britânica  (Falklands, Santa Helena, Bermudas, Ilhas Caimão) que apenas requerem três anos de experiência profissional. Cada vez que vejo um destes anúncios, vou sempre tratar de ver todos os pormenores da posição oferecida, e depois fico uma boa meia hora a "imaginar"...  No dia em que estiver ainda mais fartinho, não digo nada.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Second Bedroom - Job finished!

Ora viva caros seguidores,

Com este post metemos um ponto final na transformação dos dois quartos da nossa casa.
Há dois anitos fizemos o quarto1, numa empreitada que durou uns sete meses. Foi um processo de aprendizagem no qual demos algumas turras, mas que ficou tal como idealizamos. Demoramos sete meses, mas não havia pressa!

Desta vez foi diferente. Estávamos no inicio de Novembro e os sogros já com viagens compradas para vir cá passar o natal. Eu e a Ana no centro do quarto, comigo a argumentar que não daria tempo para acabar, ela a dizer que sim, eu a dizer que não ia deixar a minha cama caso não terminássemos a tempo, que seria então melhor fazer apenas uma redecoração mais ligeira.... Pouco tempo depois já estávamos a rasgar papel da parede, a levantar carpetes e a deitar as paredes abaixo.
E assim no final do dia olhamos para o quarto completamente destruído, e sabendo que estávamos num ponto sem retorno, engolimos em seco e fomos dormir com a cabeça a fervilhar de ideias.  (ao ponto de acordar um ao outro a meio do sono só para dizer "ah já sei como vamos fazer isto ou aquilo"...

Aqui está o post que fiz nesse primeiro dia em decidimos remodelar o segundo quarto.

Hoje, poucos dias depois de termos terminado o quarto (no mesmo dia em que chegaram os sogros!!) cá fica o post que completa o primeiro:






A foto-saga desde o primeiro dia pode ser vista aqui


No final do post das obras do primeiro quarto disse que não me voltaria a meter noutra. Desta vez não volto a dizê-lo. A verdade é que para quem trabalha full time pode ser um pouco exigente, mas não deixam de ser "exciting".

PS: Nas obras deste quarto eu fui claramente o engenheiro e a Ana o arquitecto.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

App of the day - Shazam

Boas tardes,

Enquanto bebo um chá, vou encher chouriços a ver se este blog é actualizado com mais frequência. Na altura que comprei o meu HTC, e ainda maravilhado com esse facto, escrevi um post sobre as fabulosas apps que é possível ter num smartphone.

Neste momento, quase 24 meses depois da compra do HTC, a realidade mostra que são poucas as apps que realmente são uteis e que se usam com frequência. A sugestão deste post é uma excepção, que me continua a maravilhar.
O Shazam (download grátis para Androids, não sei como é com os outros) é um programa que permite identificar musicas, bastando para isso que o telemóvel consiga "ouvir" a música por uns breves segundos. É tão eficaz, mesmo com ruído de fundo, que quando tento identificar uma música dou por mim a torcer para que o programa não consiga identificar a música. (só para que o meu ego diga algo como, "és bom, mas não conheces tudo").

Enfim, parece magia! Dou por mim muitas vezes a conduzir e a sacar do telemóvel todo atrapalhado para que consiga apanhar a música a tempo.

A última que identifiquei fica aqui como sugestão:


Chá terminado, vou meter o soalho no segundo quarto! Finalmente começo a ver o produto final a aparecer!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Feed the Yak...

and he will score.

Assim diz a musica, e assim foi. Enguiço quebrado com um poker do Yakubu.

Uns valentes meses depois finalmente vejo o Blackburn Rovers vencer uma partida ao vivo.
Desta vez foi ao contrário do que aconteceu muitas vezes, não jogamos nada (praí 40% posse de bola em casa), e acabamos por marcar quatro golos. Grande baile de bola que levamos de uma das equipas que melhor joga na premier league, o Swansea.

Independentemente do resultado uma coisa é certinha após o jogo, o ficarmos no bar dos sócios a beber uma ou duas cervejas antes de ir a pé para casa. Isto demora aí uns 30-45 minutos, e parece que é a melhor estratégia para apanhar as celebs (!) que vão ao estádio, senão vejamos:

No jogo do Chelsea ia a caminho de casa dando a volta ao estádio e apanho o AVB (Vilas-Boas) rodeado de fãs e jornalistas. Cá do fundo mando um "Ó Bilas Bouas" o que imediatamente cativa a sua atenção. Fui ter com ele, dar-lhe um bacalhau e agradecer-lhe pelos resultados da época passada no FCP. Eu com a t-shirt do Blackburn, a falar com sotaque português do norte, deixei-o um pouco perplexo, foi visível.

Ontem mais uma vez a caminho de casa e ainda dentro do recinto do estádio dou de caras com este personagem:
David Gest. O gajo estava a andar praí um metro à nossa frente com um ar confuso a olhar para todos os lados. Eu viro-me pró meu vizinho a dizer "olha-me este gajo com uma t-shirt do Rovers vestida", mas nem o meu vizinho nem o outro farmacêutico tuga daqui que também foi ao jogo, o conheciam.
Pelos vistos foi casado com a Liza Minnelli e era o "best mate" do Michael Jackson. Mais à frente entrou para um Mercedes de vidros escuros. Ainda estive para ir lá perguntar-lhe o que é que ele fazia ali com a t-shirt do Rovers vestida (o que depois de umas pints não custa nada), mas depois tive medo, dass, o gajo parece feito de cera.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dizem que Portugal segue o destino da Grécia

eu estive lá e não vejo mal nenhum nisso:






Mas que ricas férias de verão que passamos na ilha grega de Corfu.

Na rifa calhou-nos um bungalow (foto1) a dois ou três metros da água. Uma semana a ler, comer, dormir, apanhar sol, snokeling, beber uns copos e pouco mais.

Nota: Quando há meia duzia de anos pensava numa futura visita a países como Egipto (2010) e Grécia (2011) vinham-me à cabeça imagens como pirâmides, faraós, templos, Acrópole, anfiteatros e outros temas com algum contexto histórico e intelectualmente estimulantes. Acontece que se tratou de uma visão errada do que veio a acontecer. Isto constitui a prova de que trabalhar faz mal, pois este tipo de férias revelam uma necessidade do cérebro de passar uns dias de molho.


Já em vários outros post falei do meu fascínio sobre a forma como as pessoas se encontram, se conhecem e como o seu percurso (vida) se cruza. No caso da Grécia houve um casal que teve umas férias idênticas às nossas!
Apanharam o mesmo avião que nós a partir de Manchester para Corfu. Lá, apanharam o mesmo autocarro que distribuiu os turistas pelos hotéis da costa este da ilha. Saíram na mesma paragem para ficarem alojados no mesmo hotel. No dia em que decidimos fazer o passeio de barco pelo Adriático já lá estavam sentados no barco quando lá chegamos (soubemos depois que inicialmente tinham comprado bilhete para o dia anterior mas tinham adormecido). De regresso a casa apanhamos o mesmo autocarro para o aeroporto e o mesmo voo para Manchester para posteriormente termos descoberto que tínhamos o carro no mesmo parque de estacionamento. Acho curioso. São um casal porreiro, que por sinal já tinham ido muitas vezes a Portugal ao festival Boom e com quem tivemos um curto, mas interessante contacto.